“Vamos então acabar com as canções infantis, com os dicionários, com as palavras, nos tornar mudos, acabar com a nossa cultura e fingir que o homem não consegue discernir entre o certo e errado, nem o adequado do inadequado.”
Quanto mais a gente lê mais a gente se depara com
fatos tão pequenos que se transformam em unanimidade nacional. Atualmente, a
sociedade se prende ao chamado “politicamente correto” e se esquece da própria
cultura.
Como condenar Monteiro Lobato por criar a Tia
Anastácia, ou Maurício de Souza quando criou o Cascão que não gostava de tomar
banho. Vamos portanto acabar com todas as questões culturais que nos levam
a usar a linguagem como forma de carinho
e não como forma pejorativa, como por muitas vezes chamei meu pai
carinhosamente de “meu velho”.
Lembro da minha infância quando cantávamos
“Atirei um pau no gato” ou “O cravo brigou com a rosa”. Não me transformei numa
pessoa violenta por causa dessas canções infantis, era infância, era a época da
inocência. O que vi em um passado recente foi a censura e a modificação das
letras com a alegação de que incitavam a violência nas pobres criancinhas que
as cantavam sem que essa mesma censura se preocupasse que a incitação da violência
não se encontra nelas.
Os dicionários registram o reflexo da nossa
cultura, podemos compará-lo a um cartório que não julga, simplesmente registra.
Podemos encontrar verbetes com as definições pejorativas, como por exemplo:
“Baiano” tolo, negro, mulato, ignorante, fanfarrão etc; "Japonês”
indivíduo estranho; forasteiro ou parasita, "Francês” falsamente delicado;
hipócrita, fingido, "Polaca” mulher da vida, meretriz. Esses são só alguns
exemplos do que existe nos dicionários.
O Dicionário de língua se baseia no uso que uma
comunidade linguística faz da língua. Tradicionalmente, a linguagem é concebida
de forma natural, neutra e transparente, como se representasse a realidade.
Portanto, existe um elo natural entre a linguagem e a “palavra” que revela o interior
das pessoas, reproduzindo seus sentimentos, experiências e condutas.
Não tenho nenhuma queda pelo movimento
estudantil, MST, comunismo, e também não me considero uma pessoa politicamente
correta, mas sou contra a discriminação seja ela de qualquer tipo.
Pensando assim, é inconcebível aceitar o processo
que recaiu sobre o Dicionário Houaiss, que apresenta para o verbete “cigano”,
além do significado "relativo ao ou próprio do povo cigano; zíngaro",
também define "aquele que faz barganha, que é apegado ao dinheiro; agiota,
sovina". Os dicionários não fazem apologia do preconceito, apenas
registram a linguagem popular.
Os nossos magistrados deveriam se preocupar com
assuntos que dizem respeito aos problemas brasileiros, como, o trabalho
infantil, o trabalho escravo, entre outros. Ao invés disso, estão preocupados
em julgar um assunto do qual demonstram total desconhecimento do próprio
assunto.
Vamos então acabar com as canções infantis, com
os dicionários, com as palavras, nos tornar mudos, acabar com a nossa cultura e
fingir que o homem não consegue discernir entre o certo e o errado, e o
adequado do inadequado.
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