GRUPO MAMBEMBE - PEQUENA HISTÓRIA QUE VIROU CANÇÃO 16/11/2016


Vídeo montagem com fotos de Vânia Aroeira 
Lançamento

Livro+CD
Grupo Mambembe - Pequena história que virou canção
(Autor - Toninho Camargos)
realizado no dia 16/11/16

Local
Fundação De Educação Artística
Belo Horizonte - MG.

 
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Uma realização Mundo Produções e Toninho Camargos
através de financiamento coletivo no Catarse


O PERDÃO

Texto de -Daniel Edson Alves e Silva - advdanieledson@yahoo.com.br
  
     A vingança inteira a Deus pertence!

Jesus Cristo trouxe a filosofia do arrependimento, ensinando que só é perdoado e vive em paz quem sempre perdoa.  
Engana-se quem não consegue ver além do exposto nas regras impostas pelo Estado, principalmente as rezadas no Código Civil Brasil que concerne ao titular de direito violado a pretensão, ou seja, o poder de exigir, em juízo, uma prestação que lhe é devida. As regras esboçadas nos artigos deste código, ou qualquer outro do ‘vade mecum’ são necessárias para a manutenção de uma ordem, visto que a raça humana ainda é muito pouco evoluída, ou seja, as leis a que estamos submetidos somente existem por causa de nossa imperfeição nas relações com os outros membros de nossa espécie. Conseguirmos ir a Lua, mapear o Universo e não conhecemos a nós mesmos, temos muita dificuldade para perceber que existe uma realidade que está além de nossos sentidos e nossa lógica.
Por mais complexo que seja a verdade é que todos nossos pertences continuaram a existir após nossa morte de modo que em vida temos por obrigação deles usufruir não primeiramente em benefício próprio, mas sim pô-los a disposição a critério de precisão, não importando quem precise.
Seja altruísta, ore, persevere e por resto peça perdão por suas falhas cometidas. Tente ser melhor sempre, ainda que unicamente para alimentar o ego, a megalomania, a teomania, o importante é que você cresça, desenvolva e faça descobertas que ajude a humanidade em seu processo de desenvolvimento.
Não que seja minha intenção fazer deste trabalho uma obra de auto-ajuda, longe de mim, malogrado mandrião, ter o condão de ajudar outro humano. O máximo que consigo é encher-me de todo entusiasmo e lutar para tentar mostrar-lhe este fará as descobertas que ainda faltam-lhe ao amadurecimento espiritual.
Cada pessoa é um sistema onde a velocidade é diferente, mas o resultado de toda a equação é sempre igual. Deus ama-nos por completo e deu a cada um uma quantidade de talentos de modo que aquele que dez recebeu e outros dez desenvolveu é tão útil quanto aquele que havia recebido somente cinco e outros cinco desenvolveu. Mas aquele que recebeu um único talento e o escondeu, devolvendo-o sem trabalhá-lo, é um projeto fracassado. Melhor lhe teria não ter existido. De modo que cada um em seu tempo atinge a compreensão que somente o perdão liberta. O coração que se enrijece até o fim há de ser destruído e quebrantado pelo amor, ainda que após a morte. Em vida, devemos aprender que ninguém tem direito a nada, pois tudo a Deus pertence, incluindo nossa matéria física a qual sem o sopro divino jamais existiria.
A igreja católica prepara seus fieis durante anos em um período conhecido como catequese para que entrem em comunhão com o Criador de modo que o ‘espírito santo’, personagem da santíssima trindade e o corpo humano passam a ser uno. Assim Deus em nós habita! Não precisamos sofrer e/ou nos ocupar projetando como matar aquele que nos ofendeu injustamente. E sim orar para que ele encontre por si seus próprios erros, e ainda que este não encontre não é necessário repensar na situação.  A vida encarrega-se de corrigi-lo em algum momento. São leis universais infalíveis, coercivas, imperativas e generalizadas. Estamos todos interligados e só evoluímos individualmente à medida que contribuímos para a evolução coletiva.
O Estado absurdamente usurpou para si a função de coerção dos indivíduos, interna e/ou externamente. O que a meu ver é uma falácia, uma ojeriza aos direitos naturais que o próprio Deus nos concedeu dando-nos o livre arbítrio, o condão de fazer ou não (facultas agentes). A reclusão jamais teve eficácia, ao contrário, é uma tortura cuja finalidade é punir às pessoas por seus erros. Já lhes admoestando, que mentem todos aqueles que dizem que o sistema carcerário brasileira visa à retificação de seus detentos. É bem simples, imagine-se trancado em um cômodo três por quatro, sem contato com a sociedade, sem poder correr, ter tranqüilidade para estudar e até mesmo não poder buscar ajuda em algum templo. Dividindo esse cativeiro de energia negativa com mais pessoas. Um depósito de seres humanos desprovidos de compreensão para alcançar o amor. Até aqueles que possuíam o bem em seus corações, permanecem incertos de tal modo que ao saírem não conseguiram jamais a recuperação psicológica. Desvanece-se neste lugar a bondade de Deus. Descartamos nosso irmão com problemas, justamente aquele que mais precisa de sociabilidade para se recuperar. Entregamo-no para ser violado sexualmente, feito escravo, passar fome e frio, uma constante depressão sem qualquer válvula de escape exceto as drogas que a um preço altíssimo são utilizadas, tornando o individuo ainda mais desgraçado. Assim é dia após dia, uma viciosa rotina, sem nenhum benevolente bridão. Até que chegue a morte e fim, um problema a menos ao grande sistema.
Vituperando a consciência, ninguém escolhe como será seu DNA ao nascer. O correto é que o soberano abraça-se a todos os seus filhos em seu nascimento, sem distinção, como prevê em nossa constituição no capítulo dos direitos e garantias fundamentais, no primeiro capítulo (dos direitos e deveres individuais e coletivos), “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, á igualdade, à segurança e à propriedade...”¹. Garantindo a possibilidade de que os normais sejam sectários da filosofia do amor ao próximo, e os não normais recebam tratamento especial. Ora, justiça nada mais é que tratar os normais como normais e os anormais como anormais.
Está aí um dos grandes dissídios do ‘contrato social’. É função do Estado, manter a ordem social tendo esta como base o primado do trabalho e o como objetivo o bem-estar e a justiça social, tal qual apresenta o artigo 193 da Constituição Federal. Penso que o Estado não tem mérito para julgar ninguém, embora afirme que se faz necessário essa injustiça no presente, visto que, a humanidade ainda não atingiu um nível de compreensão para perdoar como sabiamente ensinaram Jesus Cristo e outros tantos líderes.
O mundo tornaria um caos afirmam aqueles que estão sendo beneficiados pela situação como escusa para evitar possíveis sublevações. Sinceramente, não digo que estejam errados num primeiro momento, também ressaltando essa possibilidade, mas ao desenvolver nossa capacidade de perdoar, vamos-nos tornando mais parecidos e próximos do próprio Deus.
 Sonho vivenciar essa magnífica harmonia com meus irmãos aqui na Terra, tal qual imagino ser o paraíso; almas vivendo em paz profunda, perdoando e buscando compreensão.
Na condição de cristão acredito nas leis divinas instituídas pelo Cristo e o aceito como autoridade suprema. Análogo seu ensinamento ao que os jurisconsultos estudam como normativismo; teoria esboçada por Hans Kelsen² explicando a energia reguladora que está acima de qualquer constituição.
As regras cósmicas controlam indiretamente todos os Estados de nosso planeta como diretamente o faz em todos os outros pontos do universo. São auspícios de ação e reação infalíveis. O Mestre veio apresentar o perdão como clausula pétrea para quem almeja a perfeição, advertindo àquele julga que também será julgado!
Adolf Hitler; corajoso soldado condecorado com o ‘emblema da ferida’ durante a primeira guerra mundial, excelente líder político. O Führer que em uma década retirou a Alemanha da desgraça proveniente do tratado de Versalhes e fez-lhe o maior potencial bélico da Europa, será eternamente lembrado não pela dedicação ao país pelo qual lutou por toda vida e sim pela condenação de suas teorias anti-semitismo e pureza racial.
Pergunte-se colega leitor, se o poder não está disfarçadamente fazendo o mesmo. Descartando ladrões, drogados, homossexuais, ébrios, assassinos, que em sua maioria após um estudo aprofundando, consta-se que não tiveram condição psicológica para evitar suas ações. Estes já apresentam desde a exigência da infância sinais quanto à personalidade futura, ratificando que ninguém escolhe como será seu DNA.
Somos diferentes e cada um individualmente tem seus desejos; um desejou veemente ir a Lua, sempre foi essa sua curiosidade, fato que lhe motivou a se preparar pra isso, estudando muito e mantendo uma linha regrada de vida. Outros estão vivendo embalados por torpores uma constante drogadição que retrocede o sujeito à condição de incapaz pois já não mais está com ele o discernimento. Devendo este ser inimputável. Embora, no plano real, será esquecido pelo Estado que usa como escusa a sua biliosa vontade de cometer uma infração penal, seu inevitável desejo de violar a lei, para jogá-lo na prisão, desejando que de lá não saia com vida.
Meu amigo leitor, se não concorda que esta é uma forma de eugenismo, sugiro que não continue a leitura a partir daqui. Lembre-se que o Cristo veio e morreu na cruz pelo perdão de nossos pecados. Não existe este falso debito a que nosso irmão é induzido acreditar possuir para com o demônio ou com sociedade, aceitando do plano externo até suas vísceras permanecer no calorento inferno da prisão, acreditando quitar assim uma já paga dívida. Sensato foi Sartre ao dizer que o inferno são os outros.

GRUPO MAMBEMBE - PEQUENA HISTÓRIA QUE VIROU CANÇÃO 03/11/2016


Vídeo montagem com fotos de Vânia Aroeira 
Lançamento

Livro+CD
Grupo Mambembe - Pequena história que virou canção
(Autor - Toninho Camargos)
realizado no dia 03/11/16

Local
Sesc Palladium
Belo Horizonte - MG.



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Uma realização Mundo Produções e Toninho Camargos
através de financiamento coletivo no Catarse


GRUPO MAMBEMBE - PEQUENA HISTÓRIA QUE VIROU CANÇÃO 27/10/2016



Vídeo montagem com fotos de Vânia Aroeira 
Coquetel de pré-lançamento

Livro+CD
Grupo Mambembe - Pequena história que virou canção
(Autor - Toninho Camargos)
 
realizado no dia 27/10/16

Local
Asa de Papel Café e Arte
Belo Horizonte - MG.


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Uma realização Mundo Produções e Toninho Camargos
através de financiamento coletivo no Catarse
 


QUANDO NIETZCHE CHOROU


(Leandro Diniz)
Foi com incrível rapidez que devorei esse exemplar, o que pode ser facilmente explicável em algumas colocações. O que falar de um livro que trata de um possível começo da psicanálise de forma séria e profunda? O que dizer de uma clarificação da personalidade de um dos mais cativantes e solitários filósofos do fim do século XIX? E o que dizer de um possível embate psicológico entre o Dr. Breuer (verdadeiramente um dos pais da psicanálise) e o poderoso e reservado Fiederich Nietzsche?
Sem criar estruturas narrativas complexas e diferentes esse livro faz o básico com incrível capacidade o que já é louvável por si só, quando vemos livros famosos sem o mínimo necessário para se tornarem tais a não ser pela publicidade e pelo esnobismo das classes ditas cultas que lêem e acham bom qualquer porcaria que seja lançada como um sucesso de vendas.
Não é só em seu conteúdo que o livro se destaca, mas também na forma como é proposto, magistralmente escrito ele possui todas as formas variadas e até hábeis de manter o leitor concentrado na trama, que muito bem (também) desenvolvida deixa momentos de tensão, angústia e relaxamento bem distribuídos ao longo dos capítulos, que chamam uns aos outros em seqüência, obrigando o leitor a não parar de ler até que vire as ultimas páginas, ficando com aquele sentimento de quero mais, já que está tão apegado aos personagens.
É com total cuidado que ele propõe possíveis diálogos entre os protagonistas, que existindo na vida real nunca se encontraram de fato. Refletem o peso de uma pesquisa cuidadosa de como eram, se comportavam e provavelmente agiam os personagens. Aplicando enxertos de cartas que realmente foram trocadas entre algumas pessoas como o grande compositor Wagner e a poderosa Lou Salomé, ele dá mais densidade e desconfiança da veracidade dos fatos, essa que só vamos descobrir ao ler os seus comentários no fim do livro, recomendo que leiam o livro sem saber o que é verdade ou invenção, pois dá um sabor maior à leitura.
Os cenários criados e suas interpretações assim como possíveis origens do estudo dos sonhos é algo que soa totalmente verossímil ajudando o leitor a entrar dentro da historia e praticamente viver conjuntamente essa historia que em sua origem é misteriosa, depois ficando angustiante e em seu final concluindo de forma tocante e emotiva. Todos os sentimentos são muito bem construídos passando ao leitor de forma automática e profunda.
Quanto aos artifícios utilizados são muito bem colocados, como perguntas no final de um capítulo que serão respondidas logo no começo do próximo, fazendo você virar a página automaticamente, a forma de propor o embate entre Breuer e Nietzsche que é feito de várias sessões e você não consegue terminar uma sem saber o que vai ser dar na próxima e quando essa freqüência é descontinuada você já está tão absorto na historia que esquece da vida. Outra qualidade é colocar o suspense logo de cara no primeiro capitulo nas primeiras páginas, deixando a pulga atrás da orelha sobre o que vai dar tudo aquilo.
Enfim, o livro é, além de ser um livro pop, muito bem escrito e magistralmente tocante, tanto para quem aprecia uma boa estrutura literária, quanto para quem quer conhecer, minimamente que seja, os personagens (que foram seres reais) ou quem é interessado em fatos históricos em uma reconstrução angustiante de uma época em que o homem se via preso (o que não mudou muito até hoje). Ou até para aqueles que se interessam em possíveis acontecimentos históricos, que nunca ocorreram.

A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA: A CONDIÇÃO HUMANA EM SARTRE

         Autor do texto - Evaldo Rosa de Oliveira
Introdução
O filósofo francês Jean-Paul Sartre não escreveu apenas ensaios, romances e peças de teatro, mas também obras filosóficas. Sua filosofia consiste em colocar o homem como responsável por todos os seus atos. Lançado em um mundo sem justificativa, o indivíduo projeta-se no futuro, escolhe um sentido para sua vida, já que ela não possui um sentido a priori.
O existencialismo de Sartre está inteiramente estruturado no princípio filosófico de que no homem a existência precede a essência, e esta é construída através da liberdade responsável que o homem manifesta ao escolher sua própria vida. Em sua obra, Sartre não deu uma importância excessiva ao problema religioso, pois não estava preocupado em discutir acerca da existência ou não existência de Deus. Nada, nem mesmo Deus, pode justificar o homem ou retirá-lo de sua liberdade total e absoluta, ou ainda salvá-lo de si mesmo. No presente texto, busca-se fazer uma análise da compreensão que Sartre tem acerca do homem.
A existência precede a essência
O conceito “existencialismo” começou a ser usado depois da I Guerra Mundial, com a finalidade de designar um amplo movimento filosófico e teve repercussões em diferentes campos, dentre eles o artístico, o religioso, o ético e o social. É chamado de existencialismo porque seus grandes expoentes interessaram-se fundamentalmente pelo problema da existência humana (MOREIRA, 2003: 337). Conforme o próprio Sartre afirma, o termo existencialismo é empregado de maneira diversa. Alguns pintores, jornalistas e outros grupos foram chamados de existencialistas. A palavra foi associada na época a uma literatura rebelde e solitária. Porém o existencialismo se ocupa dos problemas do homem, chamados “existenciais”, tais como o sentido da vida, da morte, da angústia, da dor etc. A definição mais clara sobre a concepção de homem em Sartre se dá em uma conferência por ele proferida primeiramente em Paris (1946), a qual depois foi repetida privadamente e intitulada O Existencialismo é um humanismo.
Tal conferência foi motivada pela necessidade que Sartre teve em responder as críticas de marxistas e cristãos acerca do existencialismo. Para os marxistas, o existencialismo coloca o homem na condição de desmotivado para agir, desolado, além de acusá-lo de afastar o homem da solidariedade. Acusam-no de um quietismo de desespero e de por fim a uma filosofia contemplativa, pois para Sartre, a mesma nos reconduz a uma filosofia “burguesa”, isto é, ao luxo.
Há dois tipos de existencialismos: o cristão, no qual se destacam Jaspers, Gabriel Marcel e Kierkegaard; e o ateu, representado por Heidegger (embora ele mesmo não o considere) e o próprio Sartre. Tanto uma corrente como a outra comungam de um princípio fundamental: a existência.
Em seu ensaio O Existencialismo é um Humanismo, Sartre usa como exemplo um objeto fabricado para explicar o princípio de que “a existência precede a essência”:
Consideremos um objeto fabricado, como por exemplo, um livro ou um corta- papel: tal objeto fabricado por um artífice que se inspirou de um corta- papel é ao mesmo tempo um objeto que se produz de uma certa maneira e que, por outro lado, tem uma utilidade definida, e não é possível imaginar um homem que produzisse um corta-papel sem saber para que há de servir tal objeto. Diremos, pois, que, para cada corta-papel, a essência – quer dizer, o conjunto de receita e de características que permitem produzi-lo e defini-lo – precede a existência: e assim a presença, frente a mim, de tal corta-papel está bem determinada. Temos pois uma visão técnica. (SARTRE, 1946: 5)
Com isso, os que acreditam em Deus criador, conceberão Deus como construtor superior, o qual confere existência às coisas, modelando-as segundo um conceito ou ideia pré-formada na mente, como faz o fabricante de corta papéis. Já os ateus, embora não acreditem num criador, tomam outro pressuposto: diferente das coisas, animais, o homem tem a existência precedida pela essência, o que leva Sartre a afirmar que o homem é o único ser que existe antes de sua essência. Com este argumento, Sartre nega a existência de Deus e exalta a existência humana.                Sartre afirma que se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, o homem. Primeiro ele existe, se descobre, surge no mundo e só depois irá se definir, ou seja, primeiramente ele é “nada”, só depois será e o será conforme se fizer, de acordo com o que tiver projetado. Com essa ideia, entende-se que o homem é condenado a ser livre.
A essência do homem vem de suas escolhas. Quando ele é “jogado” no mundo não tem essência, ele é não-ser, ou seja, ausência de ser. Paulatinamente ele vai tomando consciência de sua existência e do grande desejo dele ser, mas ser é acabado, realizado. Caso o homem fosse isso ele seria uma coisa, ou seja ser Em-si. E diferente das coisas que são em si, ou seja, já estão prontas, dadas e acabadas como acontece com a pedra, a mesa e tantos outros. No homem acontece diferente, porque no momento em que ele é “jogado” no mundo ele começa a se construir, ou seja, o homem é uma eterna indeterminação.
É importante destacar que o ser Em-si é entendido como qualquer objeto existente no mundo e que possui uma essência definida. Um livro, por exemplo, é um objeto criado para suprir uma necessidade: a leitura. Um ser Em-si não tem potencialidades nem consciência de si ou do mundo. Apenas é. Já o ser Para-si, consciência humana, é um tipo diferente de ser, por possuir conhecimento a seu próprio respeito e a respeito do mundo, e é justamente isto o que o difere dos demais seres. O Para-si não tem uma essência definida.
O homem é antes de qualquer coisa um projeto* que se vive subjetivamente, nada existe anterior a este projeto. Ele será o que ele tiver projetado e não o que ele quiser ser. Para isso, é necessário destacar que há dois tipos de subjetivismo: a escolha do sujeito individual por si só; e o outro a impossibilidade para o homem superar a subjetividade humana (SARTRE, 1946: 6).
Ao afirmar que o homem escolhe a si próprio, entende-se também que o homem escolhe todos os homens. Pois, segundo Sartre, não há nenhum dos atos que ao se criar o homem que ele deseja ser, não se crie também uma imagem do homem conforme ele julga que deva ser.  Portanto, o homem nunca pode escolher o mal, pois mesmo o mal sendo escolhido, seria um bem (SARTRE, 1946: 5). A situação do homem existencialista, que não tem um Deus para se apoiar, mas ao contrário, tem a responsabilidade de sozinho se realizar e se construir, é a de alguém que se depara com a angústia, o desespero e o desamparo.
Angústia
O existencialismo chega a afirmar que o homem é angústia, mas não no sentido sombrio e triste da vida humana. Isso significa que, reconhecendo-se livre, ele percebe que não é apenas o que escolheu ser, mas também um legislador, que ao escolher escolhe também toda a humanidade. O indivíduo se angustia porque se vê numa situação em que tem de escolher sua vida, seu destino, sem buscar apoio ou orientação de ninguém (SARTRE, 1946: 8). Com isso, o homem percebe o tamanho de sua responsabilidade e se angustia, pois ao mesmo tempo ele está escolhendo só por si e também por toda a humanidade. Mesmo aqueles que não mostram angústia ou dizem não sofrê-la, experimentam tal condicionamento.
O existencialismo não tem pejo em declarar que o homem é angústia. Significa isso: o homem ligado por um compromisso e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade. (SARTRE, 1946: 7)
O homem não pode deixar de ter na decisão que tomar, uma certa angústia. Segundo Sartre, todos os chefes a conhecem, o que não os impede de agir, mas ao contrário é condição de sua ação. Ao escolher uma possibilidade dentro da pluralidade possível, o homem se dá conta de que ela só tem valor por ter sido escolhida (SARTRE, 1946: 8).
Desamparo
Outra condição em que o homem se encontra é a de desamparo, a qual se dá pelo fato de ele ter que escolher a vida e seu destino, sem nenhum apoio ou orientação de outrem. O homem existencialista se encontra desamparado, pelo fato de não haver mais desculpas para ele. Porque, se é livre, projeto de si mesmo, autor de seu destino, ele é inteiramente responsável por si mesmo (NOGARE, 1977: 146). Percebe-se que o homem existencialista não tem mais em quem colocar suas desculpas, mas se encontra em condição de liberdade, ele está condenado a ser livre. Uma vez lançado no mundo, ele será responsável por tudo que fizer, o que o faz se sentir desamparado.
Sartre retoma Dostoievski, o qual dissera: “se deus não existisse, tudo seria permitido” (apud SARTRE, 1946: 9), e é aí que se encontra o ponto de partida para o existencialismo. Com efeito, tudo é permitido, se Deus não existe, o homem fica abandonado, pois não encontra em si nem fora de si um apoio, não tem a quem se apegar, e se vê obrigado a contar apenas com seus próprios recursos. Nesta condição, o homem não pode contar com nenhuma humanidade, nenhum partido, nenhum companheiro que possa ajudá-lo, mas única e exclusivamente consigo próprio, isto é, com suas próprias forças.
Desespero
A última condição na qual o homem se encontra é a de desespero pelo fato dele se sentir desamparado.  Desespero para Sartre é “agir” sem esperança.
Quanto ao desespero, esta expressão tem um papel extremamente simples. Quer ela dizer que nós nos limitamos a contar com o que depende da nossa vontade, ou o conjunto das probabilidades que tornam a nossa ação possível. Quando se deseja uma coisa, há sempre uma série de elementos prováveis (…) a partir do momento que as possibilidades que considero não são rigorosamente determinadas pela minha ação, devo desinteressar-me porque nenhum Deus, nenhum desígnio pode adaptar o mundo e seus possíveis a minha vontade. No fundo quando Descartes dizia:  ‘vencemos-nos antes a nós do que ao mundo’, queria significa a mesma coisa agir sem esperança. (SARTRE, 1946: 12)
Segundo Sartre, censuram o existencialismo não pelo seu pessimismo, mas sim pela dureza otimista, com a qual demonstra o homem como realmente ele é, com suas grandezas e pequenez. “A doutrina que vos apresento”, diz Sartre, “é justamente a oposta ao quietismo visto que ela declara: só há realidade na ação; e vai aliás mais longe, visto que acrescenta: o homem não é senão o seu projeto, só existe na medida em que se realiza, nada é  portanto, nada mais que o conjunto de seus atos, nada mais do que a sua vida” (SARTRE, 1946: 13).
Conclusão
O homem sartreano é aquele que está por fazer-se, não tem valores que o precedem. Ao mesmo tempo em que Sartre parte do pressuposto de que Deus não existe, o homem é elevado de tal forma que se torna quase um “semideus”, auto-suficiente, capaz de criar sua própria essência.
Sartre procura refletir em sua filosofia o homem que sobreviveu à Segunda Grande Guerra e que tem diante de si a necessidade de pensar a partir de si mesmo. Afirmar que a existência precede a essência, não é simplesmente suprimir Deus. Dizer que a existência precede a essência é colocar o homem como um “nada” lançado no mundo, desprovido de uma definição. O homem surge no mundo e, de início, não é nada; só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Ora, isso implica também o fato de que o homem só se faz num constante projeto, num incessante lançar-se no futuro. Somente assim o homem irá se definir como ser existente e consciente de si mesmo. Lançado no mundo sem perspectivas pré-determinadas, o homem determina sua vida ao longo do tempo e descobre-se como liberdade, ou seja, como escolha de seu próprio ser no mundo. Eis a origem da angústia, do desamparo e do desespero.