QUANDO NIETZCHE CHOROU


(Leandro Diniz)
Foi com incrível rapidez que devorei esse exemplar, o que pode ser facilmente explicável em algumas colocações. O que falar de um livro que trata de um possível começo da psicanálise de forma séria e profunda? O que dizer de uma clarificação da personalidade de um dos mais cativantes e solitários filósofos do fim do século XIX? E o que dizer de um possível embate psicológico entre o Dr. Breuer (verdadeiramente um dos pais da psicanálise) e o poderoso e reservado Fiederich Nietzsche?
Sem criar estruturas narrativas complexas e diferentes esse livro faz o básico com incrível capacidade o que já é louvável por si só, quando vemos livros famosos sem o mínimo necessário para se tornarem tais a não ser pela publicidade e pelo esnobismo das classes ditas cultas que lêem e acham bom qualquer porcaria que seja lançada como um sucesso de vendas.
Não é só em seu conteúdo que o livro se destaca, mas também na forma como é proposto, magistralmente escrito ele possui todas as formas variadas e até hábeis de manter o leitor concentrado na trama, que muito bem (também) desenvolvida deixa momentos de tensão, angústia e relaxamento bem distribuídos ao longo dos capítulos, que chamam uns aos outros em seqüência, obrigando o leitor a não parar de ler até que vire as ultimas páginas, ficando com aquele sentimento de quero mais, já que está tão apegado aos personagens.
É com total cuidado que ele propõe possíveis diálogos entre os protagonistas, que existindo na vida real nunca se encontraram de fato. Refletem o peso de uma pesquisa cuidadosa de como eram, se comportavam e provavelmente agiam os personagens. Aplicando enxertos de cartas que realmente foram trocadas entre algumas pessoas como o grande compositor Wagner e a poderosa Lou Salomé, ele dá mais densidade e desconfiança da veracidade dos fatos, essa que só vamos descobrir ao ler os seus comentários no fim do livro, recomendo que leiam o livro sem saber o que é verdade ou invenção, pois dá um sabor maior à leitura.
Os cenários criados e suas interpretações assim como possíveis origens do estudo dos sonhos é algo que soa totalmente verossímil ajudando o leitor a entrar dentro da historia e praticamente viver conjuntamente essa historia que em sua origem é misteriosa, depois ficando angustiante e em seu final concluindo de forma tocante e emotiva. Todos os sentimentos são muito bem construídos passando ao leitor de forma automática e profunda.
Quanto aos artifícios utilizados são muito bem colocados, como perguntas no final de um capítulo que serão respondidas logo no começo do próximo, fazendo você virar a página automaticamente, a forma de propor o embate entre Breuer e Nietzsche que é feito de várias sessões e você não consegue terminar uma sem saber o que vai ser dar na próxima e quando essa freqüência é descontinuada você já está tão absorto na historia que esquece da vida. Outra qualidade é colocar o suspense logo de cara no primeiro capitulo nas primeiras páginas, deixando a pulga atrás da orelha sobre o que vai dar tudo aquilo.
Enfim, o livro é, além de ser um livro pop, muito bem escrito e magistralmente tocante, tanto para quem aprecia uma boa estrutura literária, quanto para quem quer conhecer, minimamente que seja, os personagens (que foram seres reais) ou quem é interessado em fatos históricos em uma reconstrução angustiante de uma época em que o homem se via preso (o que não mudou muito até hoje). Ou até para aqueles que se interessam em possíveis acontecimentos históricos, que nunca ocorreram.

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