BABEL. UMA REFLEXÃO SOBRE NÓS MESMOS.


 O que vemos nos dias de hoje? Vemos cada vez mais as pessoas não aceitando aquilo que lhe é diferente, que a sua noção de certo e adequado que é o correto, que são os seus valores que devem prevalecer, que aquilo que é veiculado na mídia condiz com a realidade, e talvez o mais problemático que é viver na cada vez mais na sua individualidade e não enxergar o Outro.
Sabemos muito bem, que é muito difícil para as pessoas aceitar os questionamentos sobre suas identidade, valores, símbolos e etc. Mas não devemos esquecer que sem o dialogo não adquirimos conhecimento e por consequência o nosso aprendizado sobre o Outro é comprometido. E é justamente esta falta de dialogo com o Outro que gera todos os tipos de conflitos que vemos hoje em dia, principalmente no que tange as diferenças culturais.
Tenho consciência disso, pois todos nós estamos a procura da nossa identidade, nossas bases e valores, nossos símbolos dentro de uma sociedade, que muitas vezes é dominada por velhos costumes e crenças sobre o certo e o errado, sobre o adequado e inadequado.
No ano de 2000 a.C um sacerdote escreveu “ Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe”.
Na história da Torre de Babel do velho testamento, encontrada em Gênesis 11:1-9, quando os homens imaginaram que conseguiriam construir uma torre que chegasse ao céu e que teriam poder e lugar semelhante a Deus, este como punição confundiu a linguagem dos homens, abrindo as portas para todos os tipos de conflitos culturais, explicado na Antropologia pelo etnocentrismo.
Mas para começar a entender  o Outro, primeiramente temos que ter uma noção do que é cultura, falamos normalmente no nosso dia a dia, e por muitas vezes não sabemos exatamente o que é, e também sobre o que significa etnocentrismo.
Em termos didáticos, podemos dizer que cultura são padrões sociais que permitem moldar o nosso comportamento. Esse padrão inclui tecnologia, organização econômica, politica, crenças, mitos, senso comum, vestuário, hábitos alimentares, senso comum, entre outros.
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, fala que a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma, que para ele seria a proibição do incesto, padrão de comportamento comum a todas as sociedades humanas.
Na antropologia o etnocentrismo pode ser definido como aquele que ocorre quando um determinado individuo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor, seja pela sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, ou até mesmo por uma diferente forma de se vestir.
Podemos perceber claramente  o etnocentrismo latente nos dias de hoje, quando lideres religiosos e políticos defendem a guerra, as invasões ou a imposição de sua cultura sobre outra etnias, defendendo a tese que as outras etnias são infiéis, pagãs, do eixo do mal, bárbaros e outros mais. Como exemplo podemos citar, a atitude Norte Americana contra os Muçulmanos, os Judeus contra os Palestinos, os Chineses contra os Tibetanos, o Neonazismo na Europa e por ai vai. Mas também temos que olhar para nosso próprio umbigo, no Brasil os homossexuais, os negros, as mulheres, os nordestinos, os índios e etc., são os principais alvos de piadinhas de mau gosto que são claramente atitudes etnocêntricas, mas que muitas vezes somos coniventes e achamos inofensivas.
Vale lembrar também que não podemos acreditar que existem grupos superiores ou inferiores. Os habitantes que povoavam as Américas após seu “descobrimento” pelos Europeus foram considerados selvagens, pois a tendência do homem é negar ou repudiar tudo aquilo que lhe é diferente ou não esta de acordo com os seus hábitos e costumes. Nesse contexto estão incluídas as pessoas que analisam as outras etnias baseadas em sua própria cultura. O resultado disso é a incompreensão dos aspectos do étnicos do Outro e por consequência a criação do conceito de que uma cultura pode ser superior a outra.
Nos idos de 1969 a genialidade de Chico e Vinicius criou a letra de “Gente Humilde” musicada por Garoto (Anibal Augusto Sardinha), que talvez o seu ultimo refrão que diz: “E ai me dá uma tristeza no meu peito. Feito um despeito de eu não ter como lutar. E eu que não creio peço a Deus por minha gente. É gente humilde que vontade de chorar”,  possa representar um pouco de como temos que pensar e agir em relação ao Outro.
Hoje a globalização, nos permite estar permanentemente conectados através da internet, podemos perceber cada vez mais as fronteiras do mundo se aproximando cada vez mais, e nos deixando cada vez mais próximo do Outro. E através das redes sociais virtuais, as pessoas encontram outras pessoas que compartilham dos mesmos gostos e trocam suas experiências. Quando ocorre um terremoto no Japão, minutos depois o mundo inteiro através já tem acesso a notícia.
As redes virtuais podem romper as barreiras geográficas, pois num tempo não muito longínquo aprendíamos sobre outras etnias somente através da leitura, sendo que, hoje podemos através destas conhecer melhor outras etnias e compreender melhor a sua cultura, permitindo assim quebrarmos certos pré-conceitos concebidos pela escrita.
Mas sejamos francos e coerentes e vamos repensar sobre tudo isso, vamos parar com as demagogias e:
Pensar que apesar das diferenças culturais, temos que começar a discernir o certo do errado, o adequado do inadequado, e aceitar o Outro como ele é e não como queremos que ele seja.
Refletir se nossos conceitos de valores são válidos para as outras etnias, e se os seus são validos para nós. Com essa reflexão poderemos chegar a um denominador comum e passar a conviver em paz e harmonia.
Mudar a forma de enxergar o Outro, que com certeza será diferente de nós, mas são as diferenças que nos fazem crescer como indivíduos.
A construção de uma sociedade sobre uma estrutura sólida baseada na tolerância exige desta mesma sociedade o entendimento das intolerâncias dos dias atuais. Não adianta a sociedade enxergar a intolerância somente no entorno do Outro, mas ir além, pois esta é também uma questão social, econômica, política e de classe.

E por fim, se não começarmos imediatamente alguma coisa para mudar tudo isso agora, teremos que simplesmente esperar que a profecia Maia se cumpra, ou seja, que o mundo acabe.
Escrito por Jorge Marques da Silva

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