A HISTÓRIA DOS HOMENS NÃO MUDA, É SOMENTE REEDITADA.

Artigo de Sociologia da Faculdade Pitagoras - Betim - MG
Autor - Jorge Marques da Silva - 6 período - Administração




Baseado na interpretação particular do Filme “Daens, um grito de justiça” lançado em 1992 e dirigido pelo Belga Stijn Coninx, este trabalho tem o intuito de levar a uma reflexão política e ideológica, partindo do conceito que estes pontos são inerentes a natureza humana, e portanto, precisam ser desenvolvidos e analisados a luz da razão.
Esta reflexão nos leva a analisar os tempos atuais com outros olhos, percebendo que a história não muda o que muda são os personagens e o contexto.


O filme remete ao final do século XIX em plena revolução industrial, na pequena cidade Belga chamada Aalst, onde os trabalhadores da indústria de tecelagem começaram a pleitear melhores condições de trabalho, pois se encontravam em um estado de miséria por conta dos baixos salários que recebiam.
Neste período não haviam leis trabalhistas que garantissem a dignidade dos trabalhadores, a Igreja com a doutrina social da encíclica “Rerum Novarum “ do Papa Leão XII tinha um papel muito importante na sociedade e o socialismo começava a nascer na Europa.
A população era dona somente da sua força de trabalho, recebendo por isso salários miseráveis. Para que uma família sobrevivesse era necessário que todos trabalhassem, inclusive as mulheres e as crianças. Além de trabalharem 15 horas por dia as instalações fabris não garantiam nenhuma segurança desses trabalhadores. A exploração das mulheres como simples instrumento de satisfação masculina é claramente apresentada quando o contramestre tenta seduzir uma operária e não conseguindo a estupra, por outro lado as crianças também eram exploradas quando mostra uma criança que mesmo com sono é obrigada a trabalhar causando a sua morte entre as máquinas. Além destas cenas apresentadas no filme existe mais uma que demonstra a total exploração de mulheres e crianças, que é quando os empresários com o objetivo de aumentar seu mercado de atuação e seus lucros decidem que só as mulheres e crianças iriam trabalhar, pois ganhavam bem menos que os homens.
A história da cidade de Aalst começa a se transformar com a chegada do Padre Adolf Daens em sua chegada a cidade se sensibiliza com as condições de pobreza e miséria que a cidade se encontra. Através do jornal católico, começa a escrever artigos contra a política e o sistema trabalhista da época tentando mudar a consciência da população de Aalst que era oprimida pela burguesia, e passar a exigir melhores salários e condições de trabalho. Em sermão realizado na igreja cita a encíclica “Rerum Novarum que em português significa "Das Coisas Novas". Esta encíclica demonstra a preocupação da Igreja com a condição de miséria dos trabalhadores. Na visão do Papa Leão XII o progresso estava levando a humanidade ao caos, inclusive o socialismo que nascia como uma opção para os trabalhadores foi colocada como uma alternativa herege, que levava a sociedade a violar os direitos sagrados da propriedade privada e doméstica.

... eis aqueles que dizem respeito ao pobre e ao operário: deve fornecer integralmente e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu por contrato livre e conforme à equidade; não deve lesar o seu patrão, nem nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações devem ser isentas de violências, e nunca revestirem a forma de sedições; deve fugir dos homens perversos que, nos seus discursos artificiosos, lhes sugerem esperanças exageradas e lhes fazem grandes promessas, as quais só conduzem a estéreis pesares e à ruína das fortunas.
Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do cristão. O trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia cristã, longe de ser um objeto de vergonha, faz honra ao homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano e usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços.
(Leão XII, 1891:12)

Com a promulgação do sufrágio universal pelo parlamento Belga que deu ao povo o direito de soberania pelo voto sem distinção de classes, o Padre Daens se candidata a deputado pelo Partido Social Cristão para defender e representar os interesse dos trabalhadores contra as injustiças, obtendo apoio inclusive dos socialistas e dos liberais. Nesse momento os empresários através da sua influência política questionam a influência da Igreja perante a sociedade, primeiramente tentam fraudar as eleições evitando assim a eleição do Padre Daens, não tendo sucesso utilizam a sua força politica e financeira juntamente ao episcopado Belga que de uma forma politicamente correta deve influenciar o padre Daens a desistir, mas o episcopado não assume nenhuma por saber que uma decisão contraria aos anseios do povo levaria a perda de fiéis, passando a decisão ao sumo Pontífice. Ele então é chamado ao Vaticano pelo próprio Pontífice, que numa atitude de persuasão e humilhação lhe deu um chá de cadeira e não o recebeu, para que desistisse de seu clamor por justiça social. Neste momento o Padre Daens fica dividido entre a sua fé cristã e sua consciência politica.
Apesar de todos os esforços da burguesia e da Igreja padre Daens prosseguiu com a sua luta por justiça social. Morreu em 1907, em um enterro simples poucos trabalhadores apareceram e a Igreja não lamentou a sua morte.
Ao longo do século XIX a sobrevivência das famílias operárias dependiam do trabalho de todos, inclusive das mulheres e crianças, que eram as preferidas pois seus salários eram cerca de quatro vezes menos as dos homens.
As crianças a partir dos cinco anos já trabalhavam, e devido a sua pequena estatura podiam se espreitar pelo pequenos espaços das máquinas, limpa-las e concertar os fios que se quebravam, mas como ainda eram crianças não possuíam o vigor de um adulto e se cansavam, e quando isso ocorria o contramestre as castigava. As mulheres não tinham direitos iguais aos dos homens e eram colocadas como reles serviçais das vontades dos homens, e ao mesmo tempo ganhavam muito menos que os homens. Trabalhavam em média 15 horas por dia, sendo as “preferidas” não só porque recebiam menos. Isso levava a mulher a retardar o desenvolvimento de seu corpo, a desorganizar  a estrutura familiar, mas também a promiscuidade e prostituição, devido a sua vulnerabilidade diante do contramestre

No século XXI a maioria das famílias ainda incutem em seus filhos a necessidade do trabalho para ajudar no aumento da renda, sem se preocuparem com o seu desenvolvimento precoce e o prejuízo com a educação. No Brasil em 2010 conforme o IBGE havia 1,6 milhões de crianças entre 10 e 15 anos trabalhando, esse numero é alarmante se imaginarmos que essas crianças por muitas vezes estão trabalhando para poder aumentar a renda familiar e desistindo da escola.
As mulheres continuam não sendo respeitadas pelas suas capacidades, sofrem preconceitos de todos os tipos, trabalham muito mais que os homens e recebem muito menos. No Brasil 42% do mercado de trabalho é ocupado por mulheres, não existe salários compatíveis com a função se comparado com os dos homens, e entre todos que recebem um salário mínimo 53% são mulheres. Isto demonstra que apesar das conquistas da mulheres nos últimos 100 anos, a situação delas no mercado de trabalho não mudou muito.
Os administradores das empresas se esquecem do seu principal patrimônio que é o ser humano, isso fica claro quando para serem mais competitivos reduzem a sua mão de obra, mas nunca reduzem seus ganhos. No Brasil,. Em 2009, em Goias, entre os municípios de Caçu e Itarumã em projeto integrado com o PAC, foi descoberto trabalho escravo. Noventa e oito operários vendiam seu trabalho por alimentação, estavam sem receber salários, a alegação dos responsáveis é que eles não estavam recebendo porque estavam devendo a alimentação. Além de tudo isso, devido as “dividas” não podiam abandonar o trabalho, e ainda por cima, dormiam no chão e os alojamentos não tinham banheiro, em resumo viviam literalmente como escravos.

Tendo uma visão racional dos eventos e acontecimentos em que o filme se contextualiza, e a nossa história contemporânea, podemos concluir que a história dos homens permanece inalterada ao longo do tempo, ela só é reeditada para o tempo em que se encontra.

Isso tudo nos leva a refletir sobre nós mesmos, sobre a nossa sociedade e quem sabe reformular a história dos homens baseando-se na frase de Rousseu “ O Homem nasce puro, a sociedade que lhe corrompe”.


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