Existe um grande embate na modernidade sobre a possibilidade da relação entre a fé e a razão. Encontramos hoje duas castas de pessoas bem evidentes, que são aquelas que privilegiam somente a fé e aqueles que privilegiam somente a razão. E, com isso, temos pessoas incompletas, nas dimensões que constituem o ser humano na sua integralidade.
“Impelido pelo desejo de descobrir a verdade última da existência, o homem procura adquirir aqueles conceitos universais que lhe permitam uma melhor compreensão de si mesmo e progredir na sua realização” (JOÃO PAULO II, 2010, p.8). Essa constatação é de singular relevância para a compreensão do que seja o conhecimento e a partir dele compreender a racionalidade. Até mesmo o conceito de razão, assim como a fé, vem sofrendo variações profundas. Hoje existe a tendência de se reduzir a razão ao campo empírico e a fé a uma mera expressão de sentimentalismo. Daí a necessidade de uma conjugação, para que haja um frutuoso equilíbrio e uma maturidade na consciência humana.Blaise Pascal (1623- 1662) pensou estas categorias, primeiro pensando a razão e depois pensando a fé. Ele concebe a razão como aquela que confere dignidade ao homem. Segundo o filósofo “o homem não é mais que um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante [...] Assim, toda a nossa dignidade consiste no pensamento” (PASCAL, 2010, p.88). É, portanto, preciso que o ser humano se esforce para pensar e pensar bem.
Com efeito, para esse pensador, o fato de a razão conferir dignidade ao homem, ela não se fecha em si, ela precisa reconhecer os seus limites. E, para não desprezar a fé, colocando-a como uma instância metafísica alheia a tudo o que é humano, ele apresenta a ideia da aposta.
Sim, é preciso tomar partido; não depende só da vontade; vós estais comprometidos e não participar, não apostar senão em Deus nem é apostar. O que esperais vós? Pesemos o ganho e a perda tomando o partido de crer em Deus. Se vós ganhais, ganhais tudo; se vós perderdes, não perdereis nada. Apostai, pois, sem hesitar (PASCAL, 2010, p. 33).
A fé seria apostar, mas numa única perspectiva da jamais inferir em equívocos. E, com isso, entender que aquilo que é transcendente também se apresenta à razão, numa relação de soma e não de anulação. O desejo humano de conhecer a verdade impulsiona a razão a sempre ir mais além, e que sua capacidade é sempre superior àquilo que alcança. Ela é capaz de descobrir o termo de seu próprio caminho.
Ao pensarmos a origem do homem em Deus, é preciso conceber que tanto a razão quanto a fé provém Dele e, com efeito, não podem se contradizer. Por conseguinte, a fé é de alguma forma a exercitação do pensamento, por isso a conjugação entre essas categorias faz-se urgente.
Confirma-se assim, uma vez mais, a harmonia fundamental entre o conhecimento filosófico e o conhecimento da fé: a fé requer que o seu objeto seja compreendido com a ajuda da razão; por sua vez a razão, no apogeu da sua indagação, admite como necessário àquilo que a fé apresenta (JOÃO PAULO II, 2010, p. 60).
No entanto, a conjugação entre razão e fé é necessária para a completude do homem, que além de racional é transcendente. E, é preciso saber que aquilo que é invisível não significa que é inexistente. E, ainda “uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta, não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a radicalidade do ser” (JOÃO PAULO II, 2010, p. 68).
Portanto, é preciso pensar o ser humano em todas as suas dimensões para que haja uma correta interpretação e uma relação madura, já que a fé e a razão auxiliam no equilíbrio do ser humano enquanto pessoa.
Autor : Alessandro Tavares Alves - Graduando em Filosofia pelo Seminário Arquidiocesano Santo Antônio – CES-SMC
Extraído - http://webnucleoverbita.cesjf.br/node/23821
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