O EVANGELHO SEGUNDO NÓS

Quando eu morrer que me embrulhem em um jornal.
Quem sabe eu amadureça.
Ainda consigo juntar as letras.
Criar palavras quê escorrem pelas abas dobradas desse velho jornal.
Noticias jogada ao léu.
Piadinhas incoerentes.
Artigos sem opinião nenhuma.
Estou apodrecendo dentro do jornal.
Preciso sair daqui.
Serei manchete de minha própria morte.
Mote do cansaço.
Tema das entrelinhas.
Pútrido, petiz, perdido.
Polido pelos vernáculos.
Devorado por vermes analfabetos.
Dentro do contexto da noticia.
Introduzido ao meu próprio espetáculo.
Inserido nos fatos da inerente morte-vida-solidão.
Quem sou eu?
Tiraram a minha intelectualidade.
Não posso pensar.
Não posso falar.
Ignorância de uma fé em palavras.
Escritas pelas mãos variadas
Lidas por olhos cegos
Os homens acreditam e ajoelham.
Outros ao microfone conclamam.
Preciso gritar!
Sou a tipografia de mulheres mudas.
Estou cru.
Podre.
Envolto nas linhas torpes do passado.
Na verdade obscura do presente.
Tenho Sodoma e Gomorra dentro de mim.
Mas também sou Deus-defunto.
E a ti restará palavras desconexas.
Porque tu és homem, só sabes escrever.
E quem sou eu?
Sou mulher geradora do novo!
Não pertenço a um livro criado.
Morrerei na minha história.
Borrada na verdade.
Vítima da mentira.
Carrasco de mim mesmo.
Sou a sobra do efeito.


24/06/2014 – Rodrigo Sanchez & Jorge Marques da Silva

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